The Gift – O Trigo e o Joio
Na passada quinta-feira tive oportunidade de presenciar uma verdadeira prova de fogo. Numa noite gelada, com um público nada fácil, pois tratava-se de um concerto integrado na semana de recepção ao caloiro da Universidade do Minho, os Gift deram um dos mais seguros e inteligentes concertos que já vi.
Começou tarde, já passava da 1h e 30m mas começou bem. Numa tela estrategicamente colocada foram, inicialmente, projectadas imagens de Braga captadas pela banda durante um passeio pela cidade... a cadência lenta das imagens ao som de um genial trabalho de corta e cola de vários temas dos Gift acompanhou a lenta entrada em palco dos vários elementos. Neste momento como em quase todo o espectáculo ficou no ar a ideia de uma encenação quase teatral: no arrojado jogo de luzes, nas imagens projectadas, na coordenação entre o elementos da banda... brilhante!
A Vinyl Tour é passado e a Film Tour está no fim, os Gift cresceram, cresceram muito, tanto que Portugal começa a ser pequeno para eles. Não vejo qualquer tipo de presunção por parte da formação de Alcobaça quando afirmam que querem a internacionalização. Eles são bons e tem o direito a ambiciona-la, aliás, fico muito contente em ver ambição que é o que falta a muitas áreas da vida portuguesa.
Logo após o lançamento de «Vinyl» o João Lopes e o Nuno Galopim iniciaram nas páginas do Diário de Notícias uma feroz campanha para que houvesse reconhecimento público do valor dos Gift. Mais uma vez, arriscava-se que um projecto com qualidade morresse logo no primeiro álbum por falta de visibilidade. Não foi o caso. «Vinyl» era um bom disco e os Gift conseguiram impor uma imagem de marca. Depois veio «Film», trabalho fantástico, sem paralelo na música portuguesa. Só por mesquinhice ou pela atitude tipicamente portuguesa de “bota abaixo” é que não se pode perceber a qualidade de um disco como «Film». É um álbum soberbo! A produção de Howie B. e Will O’ Donovan levam este trabalho para um patamar de qualidade a que a música portuguesa não estava habituada. É delicioso ouvir um disco com a coerência sonora de «Film», mas o que mais me fascina é a manipulação da maquinaria em favor da canção. «Me, Myself and I» ou os singles: «Water Skin», «Question of Love» e «Clown» são verdadeiros tratados da arte de bem-fazer canções.
O concerto da passada quinta deixou-me deslumbrado e a tomar pela reacção do público não fui o único. Os vinte mil discos vendidos faziam pensar que os Gift eram uma banda de culto de uma imensa minoria, o que ficou mais que provado no concerto. O recinto estava bem composto e apesar do frio o público vibrou. Foi uma das melhores prestações de bandas lusas que já vi. Gostei do conceito adulto de espectáculo, do bom gosto dos mini-filmes projectados, do poder vocal da Sónia Tavares, do genial domínio da maquinaria por parte dos irmãos Gonçalves. Destaco ainda a brilhante reconstrução de alguns temas de «Vinyl» e um novo tema apresentado. Não fixei o nome da nova música mas fiquei surpreendido, havia ali qualquer coisa de indietrónica adicionado ás magníficas orquestrações a que os Gift nos habituaram, soava a fresco... lindo!
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