terça-feira, 8 de julho de 2003

Voltei. Graças a uns mexilhões merdosos que comi na Aldeia do Meco, passei mais de uma hora numa fila interminável de carros até à Herdade do Cabeço da Flauta. Sem cds, sem álcool e num pára-arranca infernal. Já no recinto a primeira imagem marcante foi um camião cisterna dos Bombeiros Voluntários do Dafundo, estacionado, com os pirilampos ligados e com meia dúzia de maus bailarinos em cima dele, todos com ar de frete.


PONTOS


Negativo: o pó que tornava o ar, por vezes irrespirável. Mesmo.

Positivo: um melhor aproveitamento do espaço; andava-se, mais à vontade que no ano passado, não obstante as 20 mil pessoas que afluíram a esta edição.

Negativo: o Pedro Miguel Ramos.

Positivo: os bonés não saíam da tenda Hipnose.

Negativo: os pães com chouriço cru.

Positivo: as bailarinas da Smirnoff e as gajas de penteado à Björk.

Negativo: as tradicionais palminhas antes, durante, depois e fora do tempo; para não falar nos bardos e nas bardas que se achavam dignos de um dueto com a Björk, mas cá entre nós, eu também estava entre eles...

MÚSICA

Moby

Uma bola amarela aos pinchos no palco. Discursos anti-Bush politicamente incorrectos. Baboseiras. Os cds em formato festivaleiro.

Nightmares On Wax

Deixaram muito a desejar pelo que me deram a ouvir através dos cds. A hora tardia não ajudou nada.

Trüby Trio

Os Trüby Trio deram o melhor DJ Set da noite. A julgar entre os que tive oportunidade de assistir. Batidas muito boas de se dançar, de dar cabeçadas no tecto da tenda. E passaram uma versão ainda mais dançável do Eple dos Röksopp.



Dzihan & Kamien

Tive a infelicidade de não os ouvir. Na brochura do festival anunciava-os à mesma hora da menina da noite. Nem pensar...

Björk

A menina é um anjo. É mais que isso. É uma alucinação gelada num deserto tórrido. Um vestido azul esverdeado e folhado e uma corôa de penas verdes em redor de cada orelha ansiosas por um murmúrio. Um corte de cabelo justinho, liso, com repas bem delineadas e um prolongamento traseiro retro. E ela dançava, mexia, embalava, acarinhava, encenava delírios nos olhos que a devoravam. Os gestos traçavam desenhos infantis e murmuravam imagens. A voz é a voz dela. Aqui, ao vivo e a cores. Muitas cores. A poucos metros de distância. Tudo isto acompanhado por cinco violinos, dois violoncelos e uma harpa genial. Mais as caixinhas de música dos Matmos e os beats psicadélicos e os efeitos fabulosos numa voz fabulosa. E as labaredas em cena e o fogo de artifício sob o palco. E as projecções numa tela paradisíaca em imagens saídas do sonho de um génio. O transe do corpo de menina durante «Hunter» adivinhava um concerto memorável. E foi. Já acabou. Ficaram três inéditos, «Desired Contellation», «Nameless» e «Where Is The Line», uma fantástica versão electro de «It's In Our Hands» e uma outra de «Human Behavior» a descer o pano. Mais ficou algo mais...


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