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O último dia do
Festival de Paredes de Coura torna cada vez mais nítida a percepção que os grandes festivais de Verão são, sobretudo, eventos de lazer muito antes do conceito clássico de festivais de música. O público é tão diversificado como o cartaz o que é salutar e motivador, mas faz com que o entusiasmo recaia principalmente nas bandas do momento, isto porque a maioria da assistência jovem presente é exactamente isso que busca.
Ora este preâmbulo vem a propósito do entusiasmo ligeiramente débil em relação ao concerto de
Nick Cave & The Bad Seeds. Presenciar a exalação de energia que o antigo líder dos
Birthday Party deixou em Paredes de Coura poderia ter sido um acto de loucura noutros tempos. Para muitos dos presentes parecia dizer pouco. Pior parece ter acontecido a
Vincent Gallo que "desorganizou" o público, apesar da sua boa disposição e do magnífico concerto, onde nos deu a conhecer a celestial voz de
Theresa (ficamos a saber que a música
yes, i'm lonely é sobre ela).
Antes destes dois grandes vultos tivemos a presença musculada de
Juliette & The Licks que veio retemperar o púbico com decibéis semellhantes aos das noites anteriores. Teria sido muito interressante ver Juliette Lewis interpretar algo de
PJHarvey tal como o havia feito majestosamente no filme
strange days.
Apesar da certeza que a magia de um grande festival está muito para além da leveza deste tipo de análise fica sempre aquela vontade de dizer algo quando o público parece não corresponder à actuação de quem está em palco. Em 2002,
João Peste, vocalista dos
Pop dell' Arte, disse adeus a uma plateia que não compreendia ou não conhecia os seus pergaminhos na música portuguesa com a ironia intrínseca à música
so goodnight!
Será que não é fundamental fazer uma "preparação" para usufruir a plenitude de um bom concerto?