24h entre Sigur e Gotan
A placa indicava que faltavam 8 km para chegar ao Porto. Chovia... chovia muito... chuva e vento, uma típica noite de inverno nortenho. O trânsito estava infernal. Faltava meia hora para as portas do Coliseu abrirem. No carro já comentávamos que se calhar já não iríamos chegar a tempo de ouvir os The Album Leaf, banda que iria fazer a primeira parte do concerto dos Sigur Rós. Pressionei a memória 1 do autorádio na esperança que os 106.9 da T.S.F. me explicassem o porquê de estar quase parado na auto-estrada. A explicação não tardou, a poucos quilómetros de onde me encontrava tinha ocorrido um choque em cadeia.
Chovia cada vez mais. O telemóvel dá sinal de mensagem recebida. Pensei logo que devia ser o Silvestre. Ele tinha ido mais cedo, talvez quisesse marcar um ponto de encontro.
Os carros estavam quase parados. Peguei no telemóvel, mensagem do Silvestre como eu tinha suspeitado:
"Estou na casa da Patrícia. Janto cá e dp apareço no Coliseu. Está cá o francês do Gotan Project."
A parte do "francês do Gotan Project" não estava a fazer muito sentido. Bem... era verdade que eles iriam actuar no Porto na noite seguinte. Trânsito parado, trocamos mais algumas mensagens.
20h:36m, eu e mais uns amigos, entramos para o Coliseu, a sala ainda estava despida. Procuramos um bom lugar. Enquanto esperávamos íamos recordando concertos passados, aquele espaço é mágico. Pouco depois começavam a actuar os The Album Leaf. Foram uma agradável surpresa, actuação simples mas segura.
A sala continuava a receber pessoas, as luzes do imenso candeeiro central apagaram-se, o Silvestre ainda não tinha aparecido. Ouviam-se conversas cruzadas, eu olhava para o rosto das pessoas... algumas sorriam, outras faziam poses mais espirituais, umas estavam mais agitadas, outras mais serenas...
Os Sigur Rós sobem ao palco... primeira explosão de alegria, o primeiro de um dos muitos momentos de euforia colectiva que se viveram ao longo do concerto. O sala estava conquistada mesmo antes do concerto começar... o resto... quem esteve lá sentiu... quem não esteve mas gosta de Sigur Rós pode imaginar... A chuva, essa, deve ter continuado a cair...
O Silvestre apareceu durante o primeiro tema. Um aperto de mão mas nem uma palavra, voltei a focar o palco.
Fim de concerto, Sigur Rós em palco pela segunda vez, para, pela segunda vez fazerem uma vénia colectiva. O público retribui, o Coliseu quase veio abaixo.
Dirigia-me para a saída enquanto comentava com os meus amigos o espectáculo. Perto de nós passa uma miúda que abanava um folha de papel com um ar triunfante, tinha conseguido o alinhamento do concerto. Já no exterior do Coliseu encontramos a Patrícia, amiga do Silvestre. Surpresa! Estava acompanhada, para meu espanto, por Philippe Solal, mentor do colectivo franco-argentino, Gotan Project e proprietário da editora Ya Basta. Alto, magro, na casa dos 40 anos, muito discreto e de uma simpatia extrema. Mostrava orgulhoso uma pequena máquina fotográfica digital onde tinha captado algumas imagens do concerto de Sigur Rós, ponto de partida para uma pequena conversa. Num inglês afrancesado falamos do concerto dos Sigur, disse-me que ficaria feliz se tivesse mil pessoas no sábado a ver o seu concerto. A conversa continuou à volta dos Gotan Project, recordou o concerto do Sá da Bandeira como um dos melhores da sua carreira, falou dos quatro novos temas que iria apresentar, falou de Portugal, dos países do sul da Europa, dos músicos que o acompanham, do novo álbum que está a preparar, que andava a aprender espanhol e português...
Depois das despedidas, preparava-me para descer a rua até ao estacionamento mais um encontro imediato mas não do 3º grau. Encontrei o pessoal do Intervenções Sonoras. Cumprimentos, sorrisos e uma conversa rápida. Alguns nomes ganharam rosto, faltou mesmo o António Lisboa que já tinha iniciado a viagem de regresso.
A noite já ia longa, os 65km até casa ainda se fizeram debaixo de um temporal intenso.
Vinte horas depois estava de regresso ao Coliseu. Mais de duas mil pessoas dançaram ao som do vibrante tango-beat dos Gotan Project. A grande surpresa da noite foi para dois dos quatro novos temas apresentados, ensaiavam uma espécie de tango-hiphop! Fascinante!
Pela reacção do Philippe no fim do concerto, o Porto ofereceu-lhe mais uma noite para recordar...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário